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A Reprodutibilidade no estudo da Microbiota

Atualizado: 26 de jul.

Além da grande variedade de metodologias usadas, a pesquisa sobre microbiomas precisa avançar em definições conceituais para que seja reprodutível em laboratórios antes de contribuir para a saúde humana.



Imagem criada com Leonardo AI; prompt: illustration of a magnifying glass over 5 cartunized bacteria, background is a research lab

Imagem gerada com Microsoft Copilot Designer.


A pesquisa no campo da microbiota intestinal tem tido um notável avanço nas últimas décadas, trazendo à tona informações valiosas sobre a complexa interação entre os milhões de microrganismos que residem no trato gastrointestinal e a saúde humana. Essas análises desempenham um papel crucial na identificação de potenciais biomarcadores de doenças, na compreensão de condições crônicas e agudas, e no desenvolvimento de terapias com alvo na microbiota.


A microbiota intestinal já foi identificada como um fator importante em diversas doenças humanas, como doenças intestinais, hepáticas e até mesmo neurológicas. São milhões de microrganismos residindo no nosso trato gastrointestinal e que evoluíram com a espécie humana ao longo de milhares de anos.


No entanto, à medida em que o campo avança, uma questão ganha cada vez mais destaque: a reprodutibilidade dos resultados obtidos a partir de análises de microbioma intestinal. No contexto do microbioma intestinal, a reprodutibilidade torna-se uma questão crítica devido à influência de uma série de variáveis, incluindo a diversidade natural do microbioma entre indivíduos, a metodologia de coleta de amostras, a tecnologia de sequenciamento utilizada e os métodos computacionais de análise de dados. Na prática, o que vemos é uma grande variabilidade nos dados obtidos em diferentes laboratórios pelo mundo.


Há também algumas questões fundamentais que continuam sem resposta. Por exemplo, ainda não há um consenso sobre o que seria uma microbiota “saudável” ou “prejudicial”. E, à medida que avançamos para a era da medicina personalizada, intervenções baseadas em resultados contraditórios podem afetar a tradução da ciência para a prática clínica. É essencial reconhecer essas lacunas de evidência e desenvolver métodos mais rigorosos e críticos no campo, além de fomentar o relato claro dos métodos de processamento do microbioma e, ainda, estimular a colaboração entre pesquisadores com os diferentes conhecimentos necessários para a análise de microbioma. A discussão sobre o impacto da variação técnica, sempre que possível, poderia trazer uma interpretação científica adequada para esse tipo de estudo.


Hoje já existem projetos com foco em criar padrões metodológicos de qualidade e consistência nos estudos de microbioma. O projeto International Human Microbiome Standards (http://www.microbiome-standards.org/, 2011–2015) foi financiado pela Comissão Europeia para desenvolver padrões e diretrizes para metodologias relacionadas ao microbioma e publicou protocolos para coleta, processamento, sequenciamento e análise de microbioma humano. Projetos semelhantes incluem os padrões de referência de reagentes do Instituto Nacional de Padrões Biológicos e Controle do Reino Unido (Amos et al., 2020) e os protocolos "Best Practice in Microbiome Research" do Instituto Quadram. Infelizmente, ainda não está claro se algum grupo tomará o papel internacional de fornecer atualizações abrangentes e que acompanhem o rápido desenvolvimento de métodos de análise de microbioma.


Nos últimos anos, um grande consórcio de pesquisadores de microbioma contribuiu para o “Strengthening The Organization and Reporting of Microbiome Studies (STORMS) Checklist”, que fornece uma lista mínima de elementos necessários para o relato adequado de métodos e resultados relacionados ao microbioma. Ainda temos um longo caminho a percorrer para aumentar a transparência e a reprodutibilidade da pesquisa em microbioma, mas é um caminho necessário para elevar o campo e acelerar a descoberta de novas abordagens terapêuticas. O futuro da ciência do microbioma está repleto de oportunidades para prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças humanas complexas, e precisa de novos guias para seguirmos em frente.


Referências

  1. Hornung, B. V. H., Zwittink, R. D., & Kuijper, E. J. (2019). Issues and current standards of controls in microbiome research. FEMS microbiology ecology, 95(5), fiz045. https://doi.org/10.1093/femsec/fiz045

  2. Martin J. (2019). Reproducibility: the search for microbiome standards. BioTechniques, 67(3), 86–88. https://doi.org/10.2144/btn-2019-0096

  3. McGuinness, A. J., Stinson, L. F., Snelson, M., Loughman, A., Stringer, A., Hannan, A. J., Cowan, C. S. M., Jama, H. A., Caparros-Martin, J. A., West, M. L., Wardill, H. R., & Australasian Human Microbiome Research Network (AHMRN) Committee (2023). From hype to hope: Considerations in conducting robust microbiome science. Brain, behavior, and immunity, 115, 120–130. Advance online publication. https://doi.org/10.1016/j.bbi.2023.09.022

  4. Amos, G. C. A., Logan, A., Anwar, S., Fritzsche, M., Mate, R., Bleazard, T., & Rijpkema, S. (2020). Developing standards for the microbiome field. Microbiome, 8(1), 98. https://doi.org/10.1186/s40168-020-00856-3

  5. Mirzayi, C., Renson, A., Genomic Standards Consortium, Massive Analysis and Quality Control Society, Zohra, F., Elsafoury, S., Geistlinger, L., Kasselman, L. J., Eckenrode, K., van de Wijgert, J., Loughman, A., Marques, F. Z., MacIntyre, D. A., Arumugam, M., Azhar, R., Beghini, F., Bergstrom, K., Bhatt, A., Bisanz, J. E., Braun, J., … Waldron, L. (2021). Reporting guidelines for human microbiome research: the STORMS checklist. Nature medicine, 27(11), 1885–1892. https://doi.org/10.1038/s41591-021-01552-x

 

Luisa Behrens

BSc em Biomedicina, MSc em Bioquímica, PhD(c) em Biologia Celular e Molecular. Participou dos experimentos de replicação realizados pela Iniciativa Brasileira de Reprodutibilidade.

 


 

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