Rede Brasileira de Reprodutibilidade na 77a Reunião Anual da SBPC: presença ativa nos debates sobre ciência aberta, integridade e políticas científicas no Brasil
- Rede Brasileira de Reprodutibilidade
- 29 de jul.
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Atualizado: 31 de jul.
Entre os dias 13 e 19 de julho de 2025, a cidade de Recife recebeu a 77ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), sediada na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) - evento que recebeu 40 mil pessoas. A Rede Brasileira de Reprodutibilidade (RBR) esteve presente nesse importante encontro da comunidade científica nacional, representada por sua diretora executiva, Eduarda Centeno, em uma semana de diálogos, articulações, debates e trocas sobre os rumos da ciência brasileira — com destaque para temas centrais da atuação da Rede, como ciência aberta, reprodutibilidade, integridade e avaliação científica.
A participação começou já no domingo (13), com a cerimônia de abertura no Teatro do Parque. A sessão solene reuniu autoridades como a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), Luciana Santos, o presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro, além de várias outras lideranças acadêmicas e científicas. As falas da noite ressaltaram o papel da ciência na construção da soberania nacional e da democracia, com uma defesa firme da valorização do conhecimento, da autonomia tecnológica e da articulação entre políticas públicas de CT&I. Também foram prestadas homenagens a três cientistas brasileiras — Lúcia de Melo, Silke Weber e Tânia Bacelar — e entregue o 45º Prêmio José Reis de Divulgação Científica e Tecnológica ao professor Luís Carlos Crispino (Universidade Federal do Pará - UFPA). A gravação da Sessão Solene de Abertura está disponível aqui.
Na manhã de segunda-feira (14), a ministra Luciana Santos voltou ao palco, desta vez ao lado de Renato Janine, para apresentar dados e as prioridades do governo federal para o setor de CT&I no país. Esse tópico foi expandido e discutido com mais profundidade durante a sessão de homenagem aos 40 anos do MCTI no período da tarde. Para a RBR, foi fundamental acompanhar de perto esse processo para compreender os eixos estratégicos priorizados pelo governo no avanço das políticas públicas voltadas à pesquisa científica, bem como os investimentos previstos. Como exemplo, a ministra Luciana Santos anunciou durante o evento o prazo de 90 dias para a elaboração da Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação — documento discutido no âmbito do 6º Plano de Governo Aberto, do qual a RBR faz parte. Inserido no marco 1 do compromisso 3 desse plano, os responsáveis por esse marco buscam incorporar pautas relacionadas à colaboração, transparência e reprodutibilidade na ciência a nível de estratégia nacional.
Ainda na segunda-feira, a nossa diretora esteve presente na sessão “Mulheres, Saúde e Ciências: propostas para reduzir as desigualdades de gênero e étnico-raciais”, organizada pela SBPC e Fiocruz, com presença de pesquisadoras como Cristiani Machado (Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz), Sandra Monteiro (Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Ceará - SECITECE), Rosy Mary Isaias (Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG) e Cristina Caldas (Instituto Serrapilheira). No mesmo eixo, na terça-feira, nossa diretora acompanhou a sessão “Parentalidade e Ciência”, com a pesquisadora Fernanda Staniscuaski (Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS), fundadora do projeto Parent in Science. Os dois espaços trouxeram reflexões importantes sobre as desigualdades estruturais que ainda atravessam o sistema científico brasileiro — e sobre como políticas institucionais podem promover mais equidade e reconhecimento de trajetórias diversas na academia. A diversidade é um tema central do movimento de ciência aberta e amplamente abordado pelas recomendações da UNESCO, assim como uma prioridade da RBR.
Na quarta-feira, a nossa diretora esteve presente na Conferência do Ministro da Educação, Camilo Santana, na qual foram apresentadas as propostas do governo atual para o tema. No mesmo dia, estivemos presentes na sessão “Caminhos percorridos rumo à integridade na atividade científica no Brasil – Onde estamos e aonde vamos?”. A mesa desta sessão era composta pela Carmen Penido, representante da Fiocruz e também coordenadora da RBR, Ricardo Galvão (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq), Paulo Sérgio Beirão (UFMG), Raul Gonzalez (Universidade de São Paulo - USP) e João Pildervasser (Springer Nature). Durante a sessão, a nossa coordenadora pontuou a importância da ciência aberta e reprodutível, ressaltando a Iniciativa Brasileira de Reprodutibilidade e a RBR.

Na quinta-feira, a RBR acompanhou duas mesas organizadas por um de nossos membros, a ABEC Brasil. As sessões “ABEC Brasil e ALAEC: trajetória, conquistas e desafios das revistas científicas na América Latina” e “Ciência aberta: caminhos para a integridade e transparência na pesquisa” trataram dos desafios e avanços da editoria científica no mundo todo, ressaltaram a importância da ciência aberta e reprodutível no contexto das publicações acadêmicas, além de destacar a importância do fortalecimento dos periódicos de acesso aberto latino-americanos. Os debates dialogaram diretamente com os pilares da RBR e reforçaram a importância de práticas editoriais transparentes e responsáveis para a integridade na produção científica.

Ainda na quinta-feira, nossa diretora participou da sessão “A reviravolta na política científica norte-americana e seu impacto global”, com nomes como Luiz Davidovich (Financiadora de Estudos e Projetos - Finep), Renato Janine Ribeiro (SBPC), Helena Nader (Academia Brasileira de Ciências - ABC), Sudip Parikh (American Association for the Advancement of Science - AAAS) e Marcia Caldas (Harvard). A RBR contribuiu com um questionamento se o incentivo a uma ciência aberta, transparente e reprodutível poderia fortalecer a confiança pública na ciência — reflexão que recebeu o apoio e foi respondida de forma positiva pelo Dr. Parikh.
Na sexta-feira, último dia da nossa participação, acompanhamos a sessão “As mudanças na avaliação da produção científica da pós-graduação e seus impactos”, com representantes da UFRPE, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), CNPq, Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) e Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Durante as perguntas, a nossa diretora foi apontada como referência e contato importante na discussão sobre ciência aberta e reprodutível no país - um reconhecimento que legitima e amplia nossa atuação no cenário nacional e nos ressalta como interlocutores importantes para repensar os modelos de avaliação acadêmica no Brasil.
Perspectiva da nossa Diretora Executiva:
“Participar da SBPC 2025 foi, para mim, uma experiência profundamente enriquecedora — tanto no plano profissional quanto pessoal. Foi minha primeira participação neste evento e, ao longo da semana, tive a oportunidade de dialogar com diversas pessoas, distribuir materiais da RBR, reencontrar colegas, conhecer estudantes e fortalecer parcerias em torno de temas centrais para a ciência brasileira e para a Rede.
Durante o evento, tive a oportunidade de estar em espaços estratégicos para a atuação da RBR: participei de conversas com instituições como o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT — instituição-membro da Rede), colegas da Capes, ABEC, ANPG, e pesquisadores de diversos locais do país e com trajetórias diversas; acompanhei mesas sobre integridade científica, debates sobre avaliação na pesquisa e sessões voltadas à equidade de gênero. Além disso, participei de um minicurso sobre cientistas perseguidas na ditadura militar, com Elisa Prestes Massena (UESC) que foi uma experiência incrível e a um chamado imprescindível nos tempos atuais à memória e à defesa inegociável da democracia e da soberania nacional.
Outro destaque para mim foi a tenda SBPC Mulher, espaço potente dedicado à valorização das mulheres na ciência. Foi inspirador acompanhar projetos e falas que colocaram a diversidade no centro das discussões. E ver a SBPC dialogando ao mesmo tempo com estudantes do ensino médio na SBPC Jovem, e com diversos pesquisadores, professores eméritos e ministros de Estado, foi um lembrete do poder agregador da ciência. Gostaria de ressaltar o estande do IBICT e o projeto “Notáveis em Cordel”, que também demonstraram o quanto a popularização científica é essencial para dialogar com todos os públicos.
Estar em Recife, vivenciar a diversidade social e científica do Nordeste e conhecer novas realidades do país foi bastante marcante. Foi também um momento de reafirmar nosso compromisso com uma ciência aberta, colaborativa, íntegra, diversa e comprometida com o bem comum e dialogar com diversos atores da ciência nacional que também compartilham dos mesmos valores da Rede. Em nome da RBR, parabenizo a organização do evento e agradeço à equipe local, aos monitores e ao povo pernambucano pela acolhida generosa. Saímos de Recife ainda mais motivadas a seguir construindo uma ciência pública, democrática e confiável.
Entretanto, gostaria de deixar uma breve reflexão para as próximas edições e para os líderes que estavam presentes: A ciência aberta é hoje uma pauta central no cenário global. Diversos países já implementaram planos nacionais e vêm reformulando seus modelos de financiamento, avaliação e infraestrutura para fortalecer a transparência, a colaboração e a reprodutibilidade na pesquisa. Trata-se de um tema estratégico — essencial para a confiança da sociedade na ciência, para o aumento da robustez metodológica e para a melhor utilização de recursos públicos.
Ao mesmo tempo, essa agenda exige debate crítico e comprometido, especialmente diante das implicações éticas, técnicas e geopolíticas do uso massivo de dados e do avanço das plataformas digitais. Por isso, acredito que esse tema merecia estar mais presente nas mesas centrais do evento, com maior protagonismo nas discussões sobre o futuro da ciência no Brasil. A ciência aberta precisa entrar de forma clara e transversal nas conversas entre as lideranças da ciência, da educação e da tecnologia do país.
Em nome da Rede Brasileira de Reprodutibilidade, gostaria de nos colocar à disposição para contribuir com esse diálogo e colaborar para o fortalecimento de uma ciência cada vez mais pública, transparente e estrategicamente alinhada aos desafios do nosso tempo.” - Eduarda Centeno
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