A Rede Brasileira de Reprodutibilidade no I Simpósio Integrado de Biodiversidade da UFPR
- Matheus Salles & Rachel Turba
- há 5 dias
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Entre os dias 22 e 26 de setembro de 2025 aconteceu o I Simpósio Integrado de Biodiversidade (SIBIO), organizado pelos Programas de Pós-Graduação em Botânica, Ecologia e Conservação, Entomologia e Zoologia da UFPR.
Embaixadora Rachel Turba palestrando no I Simpósio Integrado de Biodiversidade
O evento teve 270 participantes, reunindo estudantes, pesquisadoras, pesquisadores e profissionais interessados nas múltiplas dimensões da biodiversidade, com o objetivo de promover um olhar mais integrado sobre o tema. A ideia do simpósio surgiu do desejo de unir forças: em vez de realizar eventos separados, os programas decidiram juntar esforços e construir algo coletivo. Afinal, entender a biodiversidade, com toda a sua complexidade, padrões e ameaças, pede diálogo entre diferentes áreas do conhecimento.
Durante cinco dias, o SIBIO teve uma programação diversa, com palestras, mesas-redondas, apresentações orais e pôsteres. Foi nesse contexto que a Rede Brasileira de Reprodutibilidade marcou presença com a palestra “Repensando métricas de avaliação para promoção de uma ciência mais aberta e equânime”, ministrada pela embaixadora Rachel Turba, a meu convite (Matheus, também embaixador da Rede).
Em sua palestra, Rachel convidou o público a repensar as formas como avaliamos a ciência. Em vez de depender apenas de métricas tradicionais, que muitas vezes reforçam desigualdades e desestimulam práticas abertas, ela mostrou caminhos para valorizar diferentes dimensões do trabalho científico, como colaboração, transparência e diversidade de contribuições. A palestra gerou uma discussão super rica, com participação ativa de estudantes e docentes de várias áreas. Foi um momento de troca genuína, mostrando que o debate sobre ciência aberta e avaliação científica também está ganhando força nas ciências biológicas.
Além das reflexões que surgiram, a presença da Rachel ajudou a fortalecer a conexão entre a Rede e os programas de Biodiversidade da UFPR, abrindo espaço para novas parcerias e projetos futuros. Quem sabe esses programas se tornem pilotos de ações da Rede daqui pra frente?
A perspectiva da embaixadora Rachel Turba
O convite do Matheus para participar do simpósio foi recebido com muita honra e empolgação. Fiquei feliz com a oportunidade de levar essa conversa, que me motiva tanto, para outros espaços além do meu círculo de conhecidos e colegas que já compartilham dessa mesma visão (e provavelmente estão cansados de me ouvir falar)! Estou mais ativamente envolvida neste movimento há relativamente pouco tempo, desde 2020, quando conheci a SORTEE (Society for Open, Reliable and Transparent Ecology and Evolutionary Biology), mas esse processo me abriu os olhos para um sistema acadêmico que tem perpetuado injustiças e é incoerente com os valores que cultivo como pesquisadora. Então, me voluntariar para discorrer sobre foi a parte fácil. O difícil foi pensar no que focar. São tantas as questões que merecem ser discutidas e repensadas nesse sistema e em tantos níveis. O que eu poderia levar para esse espaço que tocasse as pessoas de maneira mais direta e que poderia motivá-las a se engajar com o movimento?
Oportunamente, desde o ano anterior, tive a chance de participar na produção de um artigo em que discorremos sobre os desafios de inserção do Sul Global na ciência tradicional (você pode acessá-lo gratuitamente na forma de pré-publicação aqui). Numa série de reflexões pessoais e em grupo, ficou nítido que as barreiras principais poderiam ser reduzidas a dois guarda-chuvas: financeiro e linguístico. E no contexto do mercado de publicação, essas barreiras se unem de maneira a efetivamente coibir a circulação livre de conhecimento. Hoje, por conta dos indicadores bibliométricos atualmente usados para avaliações de programas e profissionais, gastamos milhões dos cofres públicos para que o conhecimento, também gerado em sua maioria por investimento público, seja acessível de alguma maneira. Enquanto que, ironicamente, somos um país pioneiro no modelo de publicação aberta e gratuita.
Considerando o público do simpósio como em sua maioria discentes e docentes de pós-graduação e as discussões que venho acompanhando na RBR no âmbito das avaliações dos programas de pós, me pareceu oportuno focar na questão das métricas de avaliação e nossa dependência de revistas com alto índice de fator de impacto. Impacto esse, medido por número de citações e não por critérios concretos de valorização de uma ciência transparente e reprodutível. Será que essas não deveriam ser as métricas que deveríamos incentivar? Esse é o desafio, mas o caminho já está aberto (você pode checar a apresentação aqui).
Mais sobre os autores
Matheus Salles é doutorando em Zoologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde também se formou como biólogo (Bacharelado e Licenciatura) e obteve seu título de Mestre em Zoologia. Seu trabalho atual foca na Biologia Evolutiva, com ênfase na delimitação de espécies e no uso de inteligência artificial para resolver problemas biológicos. Além disso, Matheus se dedica ao desenvolvimento e à divulgação da Biologia Evolutiva no Brasil, sendo membro fundador da Sociedade Brasileira de Biologia Evolutiva e seu primeiro Diretor de Assuntos Estudantis. Também é Embaixador da Rede Brasileira de Reprodutibilidade, uma organização que atua no sentido de fortalecer práticas de ciência aberta no Brasil. Para além do meio acadêmico, tem um interesse especial pela comunicação de ciência, com experiência como produtor e revisor de materiais de divulgação científica.
Rachel Turba é bióloga, pós-doutoranda no PPG em Ecologia e Evolução da Biodiversidade da PUCRS. No seu trabalho usa diferentes técnicas moleculares para informar planos de conservação de espécies e ambientes ameaçados. Interessada em práticas científicas reprodutíveis, anti-racistas, anti-coloniais e feministas.
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